
cartas para contato@litodepaula.com




























D-s não é brasileiro
quem dera D-s fosse brasileiro e, na bíblia,
esaú trocasse a benção por um prato de carreteiro.
os doze de israel entrassem na avenida todo fevereiro.
e o rei davi fosse o maior autor do nosso cancioneiro.
pena que ele não é, mas eu não tenho dúvida que, se além de brasileiro, jesus vivesse nos dias de hoje, ele não iria pregar na igreja do malafaia, do feliciano, nem muito menos andaria com o andré mendonça. provavelmente seria amigo da pabllo e da gloria groove. transformaria água em catuaba pra não acabar com um baile. teria entre seus discípulos pessoas de todos os segmentos e classes sociais, do mano brown ao randolfe rodrigues. seria batizado no piscinão de ramos pelo padre julio lancellotti, jogaria bola com o pastor henrique vieira, faria lives com o ed rene kivitz, tomaria uma gelada com o caio fábio e subiria o monte pra jejuar com o cabo daciolo. oh glória!!! ele visitaria frequentemente a natalia pasternak e a duda salabert, só pra jogar conversa fora e aliviar o estresse. louvaria com as canções do ivan lins. seria voluntário para ajudar na vacinação das criancinhas, faria parte do rodas da paz e multiplicaria o camarão no acarajé do almoço do mtst. brincaria com os filhos do senador contarato e ensinaria truques de mágica para os do glenn greenwald.
ele choraria a morte de marielle. e de todos os mais de 600 mil que se foram.
e quando a bancada da bíblia o chamasse de louco e comunista, ele apenas ignoraria, porque nunca chegaria nem perto do congresso.
quem dera, brasil. quem dera.










"antes de mais nada, tudo."
sempre tive medo de morrer de uma maneira estúpida. ter a existência marcada não pelos meus feitos em vida, mas pelo jeito bizarro ou engraçado de partir. já imaginou? ser lembrado como o cara que morreu engasgado com uma baguete, ou aquele que ignorou o aviso de verificar se o elevador estava mesmo naquele andar antes de entrar e partir dessa pra uma melhor. aliás, gosto desse termo –– partir dessa para uma melhor. ele deixa claro que a vida aqui e agora não é e nunca será boa o suficiente. dá uma certa esperança num pós vida sem as agonias e horrores deste mundo tenebroso. mas como fazer para tornar suportável o tempo que ainda temos por aqui? muitos morreram tentando encontrar essa resposta. o congestionamento no pico do everest e o banheiro do quarto de hotel do anthony bourdain que o digam. não acredito que essas pessoas, que conquistam tudo na vida, tenham matado a charada. mas concordo com a conclusão daquele garoto do filme, que morreu sozinho em um ônibus escolar abandonado no alaska, — “a felicidade só é real quando compartilhada”. e não se enganem com as fotos e vídeos compartilhados nas redes. em tempos de trabalho remoto e isolamento social, a verdade é que ninguém está realmente feliz. portanto, sejamos mais empáticos uns com os outros e tentemos dar mais atenção, tempo e cuidado aos demais. a realidade é o cúmulo do absurdo, o mundo da lua é a terra e ninguém tá bem. mas pelo menos não morremos escorregando no banho hoje.
ps: é irônico eu ter escrito esse texto numa sexta a noite. sozinho.
ps 2: qual foi a última vez que você ganhou ou deu um abraço?
ps 3: vacinas salvam vidas.
ps 4: fora bolsonaro.







